'Palácio de Cacimbo': Sinopse e 'Contracapa'
Moçambique: Pérola do Índico, ‘Terra da boa gente’, Arcádia em África: Infinitos areais cristalinos bordados de azul-turquesa, quebra-mar onde desaguam os eternos caminhos do Grande Rift ao Zambeze.
Efémeros portos de abrigo e frágeis âncoras de palha espraiando-se ao longo das vastas rotas migratórias costeiras da África Oriental, as suas gentes foram ao longo de um longo tempo parte da diáspora universal que hoje somos: comunidades prosperaram e sucumbiram, chefaturas surgiram e pereceram, incipientes nações nasceram e muitas outras ficaram por cumprir. Até aqui desembarcar o longínquo mercador na procura de riqueza fácil: escravos, marfim, ouro; e um milénio depois –ao ritmo da galopante globalização– matéria-prima, mão de obra barata e poder geopolítico.
Portugal, inspiradora renascentista da emergente ‘cidade global’ e da narrativa humanista da ‘utopia’, foi efémera promessa na disputa geoestratégica com outras nações europeias que se afirmaram mais imaginativas, previdentes e pragmáticas. A 'Partição Africana' de 1885 e o ultimato inglês decorre dessa modesta presença colonial que foi protelando a necessidade de uma progressiva autonomia do ‘ultramar’, imperativo que outros impérios melhor entenderam. Assim renasceu o ‘Commonwealth’ das cinzas do imperialismo britânico, oportunidade que Portugal desbaratou na obstinada e nostálgica fantasia de uma ‘Portugalidade’ que a ‘revolução dos cravos’ de 1974 foi incapaz de retificar.
O resto é história viva: interesses, valores e responsabilidades que a ‘metrópole’ deveria ter defendido, quanto mais não fosse em nome das embrionárias nações de africanos, afro-europeus e afro-asiáticos da mesma 'pátria linguística' que ali deixava abandonadas ao desassossego político. A momentânea 'unidade dos opostos' –do provincianismo das elites metropolitanas e das novas ditaduras africanas– comprovando que revoluções não anulam necessariamente erros políticos do passado, e que nem toda a mudança é progresso.
Um pouco –e algo mais– se conjetura neste primeiro caderno de narrativas em elaboração, que associa biografia e ficção, reminiscências de viagens de Memória, Procura e Chegada ao Grande Hotel Fantasia que o autor nunca definitivamente ocupou, e da Pátria imaginada à qual nunca inteiramente pertenceu.
João M. Figueiredo de Morais nasceu na Beira em 1953. Doutorado em Arqueologia Africana (Oxford), foi fundador do Departamento de Arqueologia e Antropologia e docente na Universidade Eduardo Mondlane (Maputo) até 1984, bem como investigador principal no Instituto de Investigação Científica Tropical e professor na Universidade Lusófona (ULHT) em Lisboa. Residente em Estocolmo desde 1995, exerceu o cargo de subdiretor do Programa Internacional Geosfera-Biosfera sobre as alterações globais do ambiente (IGBP) na Real Academia de Ciências (1995-2012).